CAMERATA

Pretendo-me profundamente silencioso.
A ausência de som é a possibilidade de plenitude de algum sentido.
Não quero pronunciar nem um gemido, quiçá um lamento.
Imóvel, fito-me por inteiro, desnudo em mim mesmo.
Como a vagar sem rumo dentro de um quarto em movimento.

Só fechado aqui por dentro, abro-me para o mundo que pretendo.
Tenso tormento, o silêncio é o meu memento.
Pretendo-me profundamente mudo.
A ausência de palavras é o meu alento.

Não quero nada disso tudo.
Quero ausentar-me de mim mesmo.
Que aconteça aqui em meu peito, o dia sem cabimento.
Que pleno de todos, veja tudo, em silêncio.

A vertigem do mundo é um mudo sentimento.


Alexandre Gazetta Simões

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