O QUE APRENDI COM MILAN KUNDERA
Idas
e vindas. Como se tem dito de tudo e de todos, de uma forma tão perfunctória.
Sem sentido se torna o caminhar a esmo. Como esbarrar em pessoas sem
percebê-las.
E,
ao revés, eles, os outros, ao nos perceberem. Sabem de nós pela metade. A parte
que fica acima da superfície. Poucos perguntam por aquilo que se faz essencial.
Que está submerso e exige algum esforço para ser alcançado.
Quem
está disposto a prender a respiração e mergulhar fundo no outro?
Sobre
o amor. Em sua indefinibilidade visceral, que se sustenta em um fio de
esperança e tem o peso de toda a felicidade que cabe nessa vida. Diz-se que:
O
acaso tem seus sortilégios, a necessidade não. Para que um amor seja
inesquecível, é preciso que os acasos se encontrem nele desde o primeiro
instante como os pássaros nos ombros de São Francisco de Assis.
Sobre
a vida. Em sua indecifrável cadência. Quem transcende a sombra de si? Poucos
pretendem ir além da projeção pueril do estereótipo forjado no ventre do
marasmo e do fútil exposto nas calçadas e nas mídias sociais. Cadência das
horas sem sentido, de quem não se encontrou a si e não pretende fazê-lo.
Perde-se
tudo. Sobretudo a alma.
Diz-se
sobre a alma e o pudor:
A mãe reclama
justiça para si e quer que o culpado seja punido. Insiste para que a filha
fique com ela no mundo do despudor, onde a juventude e a beleza não significam
nada, onde o universo é apenas um gigantesco campo de concentração de corpos
que se assemelham e cujas almas são invisíveis.
Muito
se tem dito sobre a beleza. Pouco sobre a futilidade.
A
beleza encerra um mundo a parte, que significa o mundo das aparências. Mas é
tão necessária como chocolate. O que seria da vida sem a dimensão dada pela beleza?
Diz-se
sobre a beleza e a vida: “O homem, inconscientemente, compõe sua vida segundo
as leis da beleza mesmo nos instantes de mais profundo desespero”.
E,
finalmente uma inconfidência. Sobre a amargura. A decepção de ter tentando e
não conseguido. A vergonha de ter de percorrer as ruas nu, com nossas vergonhas
expostas à flor da alma.
Diz-se
sobre a ingenuidade: “O que urrava nela era o idealismo ingênuo de seu amor,
que queria abolir todas as contradições, abolir a dualidade entre o corpo e a
alma, e talvez até abolir o tempo”.
E
como rir-se da morte no funeral de sua mãe.
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