ESCUCHANDO CONCHA BUIKA PARA “VIDA VIVA REMEXIDA, PA PURA TAMPERU E AGUÇA PALADAR” (E SOL PELANDO FORA DE TI)



caminhanti é caminho
caminho di caminhante
No verso e inverso
verbo ser é verbo nascer
Pé na tchon, homi na caminho
Distancia é miragem
distancia é poesia
Bloqueio inflama cansera
inclina ladeira sima água
ta disagua sima mar ta agita
Cês fundura na maré
sima ponta dedo
ta dispentia cabelo
na kukuruto kenti cafuné
Mundo é movimento 
Vida viva remexida
Pa pura tamperu 
e aguça paladar
na bico di sereia
na ponta di língua
Di alma, Sabor, Dor
Amor, Cor, Beleza em
Flor – (Sara Tavares)

A hora da partida guarda na sua angústia o gozo da chegada. Parece ser isso que justifica sua calma fingida.
Ao chegar, partida já está esquecida. Mas, é no meio da travessia que se percebe a mudança do que já mudou de dentro para fora.
O desfilar de paisagens, deixa na sua sequência arrastada o que se percebe da cadeia da vida, quando se olha para fora, tão somente. Olhar para dentro é outra história. Envolve a sensação de queda por entre meses e anos, para seguir caminhando em um dia que talvez pudesse ter existido.
Muito depois, em um dia de letargia, olha-se fundo nos olhos pregados em sua testa e se percebe diferente. Nota, o mais evidente: cabelos brancos que lhe povoam a fronte em muitos pontos antes negros. Repara a testa franzida, que recolhe para longe da percepção, qualquer manifestação emocional. Após, tempo incomum.
Nesses dias, sempre vem uma agonia de se saber menos curtido por dentro, quanto se percebe por fora. Falta-lhe profundidade da visão do processo de transformação. Essa se mostra depois. Quando já faz tempo que concluiu pela inevitabilidade da ignorância sobre as razões da vida e da morte.
Quando o sol some entre nuvens, num horizonte variado de impressões pretéritas, conclui ter muito medo das horas mortas do dia. Pavor do silêncio da noite. Madrugada povoada de fantasmas reais e imaginários que desfilam ao longo das horas marcadas pelo ritmo frenético de um relógio que por certo deverá estar aqui.
Pesadelo seu, noite de muitos domingos. Madrugadas de incontáveis segundas-feiras. Mal maior é não dormir, sim, o entrecortar do sono, por despertares afogados em suor e pasmo da parede branca, no escuro.
A calma fingida da chegada, ensaiada na hora da partida. Como lhe incomodam seus escrúpulos.
Bom mesmo é viajar por todos os sentidos do superficial. Dias e dias sem ter de olhar para dentro, mimetizado pela sucessão eterna de cenários imagéticos. Nunca mais haveria horas mortas. Não pensaria em nada que não fosse externo a si. Não existiriam noites de domingo ou madrugadas de segunda. Todos os dias seriam quarta-feira. A vida poderia terminar não no início ou no fim, mas no meio, entre o que começara e não teve tempo de terminar, por não existir conclusão de coisa alguma.
"só de imaginar já senti criança, só de imaginar já senti esperança"
https://www.youtube.com/watch?v=38psl7u2yvQ
 

Alexandre Gazetta Simões

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