APRENDER A MORRER PARA (PODER) APRENDER A SE VIVER
O
imponderável, o inusitado se apresenta em face do provável. O medo do que é
novo, em um sentido absoluto, dá azo ao continuísmo, que em última análise,
leva à derrocada de algum sentido pleno da vida.
Por
quê? Pelo fato de tudo ser parte de um ciclo. Ao ponto de se evocar o
transitório como permanente. A dualidade entre Parmênides e Hieráclito, e a
síntese conclusiva de Platão, na vida do Ente pensante (podemos ponderar).
Quem
confia, a ponto de dar o kiergardiano salto no escuro (pela fé). Ousar
subverter o certo pelo incerto. Plantando, em si, a semente da dúvida, mas
tendo, por companheira, a esperança de alcançar a felicidade, plena de sentido,
no futuro que se almeja.
Tomemos
um livro, que repousa sobre a mesa. Lê-se, o que ensina Luc Ferry (2006, p. 18).
Este traça a consciência da irreversibilidade do curso da existência, ao lançar
mão do famoso poema de Edgar Allan Poe, repetindo a maldição bradada pelo corvo
sinistro, empoleirado no pórtico daquela residência: No more, never more!
O
cerne da vida, em certo sentido, é a morte; porque devemos nos preocupar mais
com a vida, enquanto hiato de vida (circundada pela certeza da morte certa),
entre o que se quer ser e o que se pode ser. Considerando, aliás, o fluxo
contínuo da vida e a irreversibilidade desse seu curso.
Assim,
a vida só tem sentido, enquanto vida refletida (vivida com sinceridade). E
nesse ponto: qual o sentido de se prolongar a agonia de um destino que se
desnuda em flagelo, a cada respirar.
Ousar
vencer o medo! Transcender aquilo que nos aferroa à mediocridade das horas
vazias. Aprender a morrer para poder viver, pela noção de que a consciência da
morte, e a certeza da irreversibilidade da vida, infundem a coragem necessária
de uma vida em que vale a pena estar vivo.
Coragem,
para tanto, é o que falta, muita vez. Ao se deparar com o inevitável sofrimento
que emerge desse curso pretendido. Tenebrosa caminhada ao longo de inevitáveis
e quase insuportáveis sofrimentos, faz ponderar, no meio da jornada, se vale a
pena a decisão necessária, para se poder ter algum sentido, em insistir (em continuar)
vivendo.
Ao
final de jornada, é que se pode ter certeza, quando se tem à mente o corvo de
Edgar Allan Poe, imageticamente grasnando, nas profundezas de sua mente (subconscientemente),
em seu último segundo de vida: No more,
never more!
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