RESPOSTA A UMA MENINA AMARGURADA
Olha
menina, a amargura, assim como a melancolia, é um aspecto próprio de quem
carrega na alma, as marcas da dor existencial, que refletem no semblante, as
marcas dos anos de vida.
Talvez
inevitável, povoa os dias, entre momentos de alegria. É como o sol de verão,
que sai, de tempos e tempos, ao longo do dia, que se entrecorta de tempestades de
verão. Mas, nestes dias, sempre há um facho de luz, a iluminar o negro, e uma
nesga de azul a tingir o cinza.
Assim
é o correr natural das coisas em nossas vidas. Nada se pode esperar além da
decrepitude jubilosa do corpo. Mas, com alma, a conversa é outra.
Ao
menos, rebrilha, metafisicamente a consciência do amor em nosso espírito. Digo
que a paixão, assim, mais como um estado de espírito, do que como um
sentimento, traz o divino ao terreno, e traz significação ao que parece não ter
valor. Traz densidade existencial à vida. Faz valer a pena viver mais tempo
nesse mundo.
O
amor, a essência das coisas sem explicação, povoa o sonho dos homens (e principalmente
das mulheres, que são mais etéreas), garota.
O
mistério da vida fundado na vida, onde mais nada importa, a não ser viver. Um
pouco mais de vida, somente a vida, em sua simplicidade existencial.
Como
ganhar asas metafóricas, em que tudo o que era evidente em sua tediosa
expressão ordinária, ganha uma significação altamente bela e profunda.
Quem
consegue prescindir da maravilhosa sensação de plenitude, que somente o amor
traz?
Paixão
pela vida, intensamente dividida, para somar de dois um ser maior que os dois.
Que acepção própria de qualquer outro sentimento ou sensação tem essa dimensão
para o nós, seres viventes? Nós que nos percebemos pequenos e insignificados,
em nossas horas cotidianamente tediosas e seguras, quando vivemos
desapaixonadamente.
Como,
por medo ou covardia, não atender ao chamado do amor? Antes, sofrer, mas gozar
o jubilo incomparável, que só a tormentosa paixão traz, que perecer na segurança
das horas tediosamente previstas, no plano seguro da vida estruturada na razão
prudente.
Imprudente
impulso amoroso, que nos traz o pungente estado de alma tão peculiar, que não
se pode explicar, somente viver. É coisa que se apresenta raramente à nossa
vida. Uma ou poucas vezes, se tivermos sorte. Coisa que não volta, quando se
vai.
Como
juventude concentrada na alma. Ser feliz, uma vez, ou algumas vezes, é melhor
que não ter o significado da felicidade, por desesperança na presença do amor.
Não
há maior tristeza que não perceber a presença do amor, e recordar, em outro
tempo, que não amou, por mal de percepção,
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