Um otimismo silencioso do porvir
É tarde demais para sorrir quando a profunda convicção de que nada mais há que se fazer de si se revela no apagar do último veio de luz do final da tarde.
O tempo de agora lhe encobre o possível sorriso na face grave de homem ausente, enquanto os anos
lhe roubam a seiva do viver.
A velhice desse tipo, quando se aproxima traz, ao lado, fardos de azedume, além da
privação física progressiva que lhe prostra a vitalidade.
De que lhe valem os dias se a escuridão povoa sua alma, dentro e fora de si.
Soturna sombra cambiante que atravessa os minutos vividos, enquanto a
claridade se esvai, pouco a pouco.
Pretende-se profundamente silencioso, portanto. O gesto gutural habita o silêncio
de sua boca inerte.
As palavras imaginadas nascem na epiderme de sua espírito desnudo. Ressoam no vento, a
esmo, como fitas de papel, penduradas em hastes de plástico, para ninguém ouvir, além de si;
Nódoas de sons doloridos balançando, verticalmente e horizontalmente, como sua cabeça.
Por dever de educação, flexiona-a, sucessivamente, a todos os que lhe
dirigem um gesto. Ausente de si. Perdido em outras ruas de suas memórias.
Antes o silêncio sepulcral do porvir, que conserva, no seu mistério, um
otimismo duvidoso mas possível;
Que a turba, do ir e vir; legiões de seres humanos, ávidos por um pouco
de felicidade; barulhentos nas suas vaidades próprias dessa espécie vivente.
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