CARTAS DE BRASÍLIA
Sinto tua falta nos debates da
coisas que nos interessam. Realmente muito tempo que não lhe vejo.
Já me disseram que isso tudo não lhe apraz. E até, que
lhe chateia.
Eu até
relutei. Disse que não, que era engano. Bronqueie! Justifiquei com todos os
argumentos que eu tinha.
Esperei. Esperei mais...
E por falar em paixão,( e
diz o Poetinha) Onde anda você ?
Aqui tudo é o mesmo de sempre, negro, dissimulado, à
vezes, um torpor rubro de sangue no ar. Ficou tudo assim...depois que você
partiu. Aliás, eu nem me lembro de você. Agora, pensando bem, será que tivemos
o prazer de nos conhecer ?
Por tudo o que dizem de mim, deve pensar que será um
desprazer.
De minha parte, seu futuro está em minhas mãos. No
entanto, falam-me que não lhe interessa.
Aqui, existem alguns dos seus. Mas são muitos poucos.
Esquecidos, falam para as cadeiras de salões aveludados.
Os inimigos confabulam entre si, frequentam-se, e
crescem vigorosos, alimentados por subterfúgios sórdidos. Enquanto você não olha.
E você nunca olha !
Falam muito. Conhecem-no muito bem, até sabem de cabeça
o seu título eleitoral.
Sou o que eles querem que eu seja. Suja e podre, deixo
para eles o que vem de você. Anseio-lhe, por que você não pode ver. Apenas
enxerga.
E riem e falam muito de você. E por você não estar
aqui, gargalham arfando suas barrigas engravatadas.
Tecem-lhe maledicências. Chamam-lhe de popular.
Amordaçado, já não posso gritar, assim, murmuram: Roubam-lhe...
Sem emoção, perambulo pelos corredores, solidarizando-me
com os perdedores. Eles insistem em lhe defender. Discutem em seu nome. Mas as
luzes sempre estão em outra CPI.
Enquanto os ventos varrem os monumentos de concreto, as
tardes vem e vão. Anoitece, a cada dia. Você não sabe...
Espero, ainda espero, enquanto eles continuam a
discutir o seu futuro, SEM VOCÊ.
Alexandre Gazetta Simões
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