(DES)CONSOLADO PELA MELANCOLIA
Cena: Monólogo moderno
de um Macbeth, (e nós) perdido(s) em uma noite suja (como em Plínio Marcos).
Sempre acreditei no
poder das lágrimas (e a filosofia geral do pranto), por ter uma existência
real, em que me angustio, dentro de uma dimensão que transcende a ilusão da
existência. O vazio da realidade melancólica da vida vivida a seco, (por supuesto!). A
consciência do desespero existencial. Kierkegaardiano até os ossos, aqui eu me reconheço!
Por percepção (ou simplesmente
identificação), descobri bem cedo Schopenhauer, que por frases como: “Já quando
eu tinha seis anos, meus pais, ao retornarem de um passeio noturno, encontraram-me
no mais profundo desespero” (DE BOTTON, 2016, p. 209), me conquistou ab ovo.
Pela crença no
sofrimento inevitável, e a essencialidade deste para a vida, professo. Pessoas desejantes
que somos, a felicidade plena carece de sentido.
Por meio de Schopenhauer tive o primeiro vislumbre da significação do tédio e a ilusão do prazer dessa (nossa) vida.
Por meio de Schopenhauer tive o primeiro vislumbre da significação do tédio e a ilusão do prazer dessa (nossa) vida.
As perguntas habituais
de minha existência: qual a natureza humana que habita em nós? Mais freudiano
que pensar que a tragédia grega mora dentro de nós, impossível. Uma resignação
estoica sobre a tristeza imanente que embasa tudo, fez-se presente em minha
percepção de mundo (desde de quando me dei por mim).
A lucidez como filha da
(necessária) melancolia cotidiana, (derradeiramente) flagela o melancólico. Bem sei, eu, disso tudo.
Identificação com José Saramago, quando fala do fenômeno de se entristecer no meio de uma festa, sem razão (aparente)!
Identificação com José Saramago, quando fala do fenômeno de se entristecer no meio de uma festa, sem razão (aparente)!
Como crer ser possível ser
mais feliz quando mais se conhece? Impossível (de rigor)! Se não racionalmente ponderando,
sensitivamente concluído, (tem-se, ao cabo, claro).
Se a lucidez se estriba
no saber, a noção de que a angústia formata a existência humana sempre me
pareceu ser o preço justo a pagar pelo conhecimento visceral das coisas que
importam. Uma espécie de articulação de sentidos, em direção a um estado de
consciência razoavelmente confortável, pela (in)suportabilidade da liturgia da
horas cotidianas.
No entanto, a razão
pela qual chora o homem (e mais ainda a mulher) está implícita na conclusão de que o choro compensa o
mal se ser homem (e talvez mulher. Sei não, confesso!?).
A concretude da vida se faz na abstração da dor vivida. Aquela dor fingida do artista (da vida) que se torna dor deveras, como já disse Fernando Pessoa, por certo vigora.
A concretude da vida se faz na abstração da dor vivida. Aquela dor fingida do artista (da vida) que se torna dor deveras, como já disse Fernando Pessoa, por certo vigora.
Mas apesar disso tudo
já ser muito, ainda, para (nossa) vida, aceita (Camus, murmuria, algo nessa sentido)
Quero dizer, no caminhar dos (nossos) dias, o que resta? Esperar por outros horizontes metafísicos (ou futuros) de um tempo (ou mundo) do porvir?
Outro dias, dei por Kierkeegaard, bem no estilo de Drummond, quando disse: “No meio do caminho tinha uma pedra [...] Tinha uma pedra do meio do caminho [...] Tinha uma pedra [...] No meio do caminho tinha uma pedra”.
Quero dizer, no caminhar dos (nossos) dias, o que resta? Esperar por outros horizontes metafísicos (ou futuros) de um tempo (ou mundo) do porvir?
Outro dias, dei por Kierkeegaard, bem no estilo de Drummond, quando disse: “No meio do caminho tinha uma pedra [...] Tinha uma pedra do meio do caminho [...] Tinha uma pedra [...] No meio do caminho tinha uma pedra”.
A propósito, também disse Kierkeegard: o fecho da ópera bufa, que parece ser essa vida sem sentido. A consciência do
desespero onisciente. Entulho pedregoso que encerra um mistério da angústia de
ser um ser vivente.
Voltando a Camus, somente se pensa no suicídio, quando se desespera diante da ausência daquilo que dava sentido à vida (renovada no viver em conjunção ao que se espera ter ou se pensava ter tido).
Fecho: Banho de (ir)realidade. Segue só(s) a(s) sombra(s) viva(s) e (pouco) falante(s), perdida(s) no meio dessa noite suja.
Assim
é o desespero, essa enfermidade do eu, “a doença mortal”. O desesperado é um
doente de morte. Mais do que em nenhuma outra enfermidade. Salvar-nos dessa doença, nem a morte o pode, pois aqui a doença, com o seu sofrimento e... a morte, é não poder morrer. (KIERKEGAARD, 1979, p.317).
O mais nobre do seu eu, que em nós, mora, é atacado pelo mal (do desespero). Mas, não se pode morrer dessa doença. A morte não é neste
caso o termo da enfermidade. O termo interminável do desespero, dá sentido à continuidade do estar vivendo, dignificando o banal da existência, pela consciência (desesperada) de sua finitude. Voltando a Camus, somente se pensa no suicídio, quando se desespera diante da ausência daquilo que dava sentido à vida (renovada no viver em conjunção ao que se espera ter ou se pensava ter tido).
Fecho: Banho de (ir)realidade. Segue só(s) a(s) sombra(s) viva(s) e (pouco) falante(s), perdida(s) no meio dessa noite suja.
REFERÊNCIAS:
DE BOTTON, Alain. As Consolações da Filosofia. Porto Alegre: L± Rio de
Janeiro: Rocco, 2016.
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Companhia das Letras,
1973.
KIERKEGAARD, Søren Aabye, 1813-1855. Diário de um
sedutor ; Temor e tremor ; O desespero humano / Søren Aabye Kierkegaard ;
traduções de Carlos Grifo, Maria José Marinho, Adolfo Casais Monteiro. — São
Paulo : Abril Cultural, 1979 (Os
pensadores)
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