PRÓLOGO DE UMA NOITE DA ALMA




Diz-se um homem para si próprio, por meio de um discurso silencioso da mente vagueante. Era um fim de tarde, em terra estrangeira. Longe de seu eu cotidiano. Exilado de si próprio.
Em vão, cai a tarde. Refletia. Sonho nosso de que o sol vai romper o horizonte impunemente. Que a paz se dará absolutamente sobre toda a Terra. Que, lentamente, uma a uma, as luzes das ruas vão acender, e acalentar os corações fatigados na hora tardia. E, que o nosso coração será primeiro a ter o bálsamo dessa paz de todos desejante. Aquele tipo de paz que invade os campos, silenciosa e reservada, no final de todo o dia.
Acreditava que ficávamos como que a esperar o abraço de uma ansiada dama da noite. Lembrava que olhava profundamente para a nascente escuridão. Pensava: há mais paz fora do que dentro de meu ser, por certo. Mesmo que agora, todos os pássaros voltem para seus ninhos. Era o que escutava e percebia, nos arvoredos que circundavam os caminhos de sua alma. Nesse instante de percepção da realidade, presente a seus sentidos, percebia-se terrivelmente só, no fim da tarde angustiada, daqueles dias de tempos outros.
Era justamente no final da tarde, que a treva espessa da noite, abraça todo o seu ser. Bem lembrava agora.
Que podem as estrelas contra a imensidão soturna que nos invade a alma nesses momentos de dúvida? A perspectiva do sofrimento perene desafiava a presença da lua. Tanto por fazer, e a percepção de que tão pouco foi feito.
Nada podia contra o mal que enchia as suas veias de um sangue sem viço. A mão forte da onipotente tristeza apertava seu coração, contra um mundo de angústia pulsante em seu peito.
A noite é longa e longos são os seus tormentos. Abraça aqueles que insistem em permanecerem acordados.
O torpor de um sono de sentidos não representava a promessa de descanso para os que, como ele, entregavam-se às sensações das horas vazias da madrugada.
Mas, decorrem a horas. Sucessivas e peremptórias. O tempo vai resoluto, no seu contínuo desenrolar. Nada há que não se possa ter. De tudo, antes. Pouco a pouco, esvai-se, e nada resta.

Assim, longe, em algum ponto do horizonte, que não se sabe bem, por detrás das nuvens baixas do final da madrugada, há um ponto de luz. O sol insiste em voltar por mais um dia. Sempre é tempo de renascer.

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