APONTAMENTOS (DES)CONECTADOS, A PARTIR DA (RE)LEITURA DE RUBEM FONSECA



A significação do esquecimento implica na ausência espiritual. Não se restringe à ausência física. Aliás, nada é mais simbólico que a presença espiritual de um ente querido. Várias presenças podem continuar vivendo em nós. Mesmo depois que o ser se foi. Estar o ser fisicamente longe, muitas vezes representa até mesmo uma maior intimidade presencial do ente conosco.
Escreve Rubem Fonseca: “eu estava tirando Ruth da memória, depois de havê-la tirado da minha vida”
Por significação mais representativa de sentidos, as ideias valem por muitas imagens.
Escreve Rubem Fonseca: “os meus sonhos são feitos de ideias”.
A realidade é muito dolorosa, muita vez. Vez ou outra, essa percepção se apresenta, integralmente à nossa consciência. Certamente, se de forma absoluta, houvesse essa percepção tão candente, doloroso, mais ainda, seria o nosso viver.
Escreve Rubem Fonseca: “Não podemos ver as pessoas que amamos como elas realmente são impunimente”.
Como entendemos, em Rubem Fonseca, o problema de nossa sociedade (pós)moderna, no campo de influência daquilo que se convencionou chamar de arte pop, numa significação bem pueril. Próxima da ideia de indústria cultural de Adorno. Ou seja, o problema de ser consumidor de uma arte cômoda, fundada nos valores morais e estéticos da maioria dos indivíduos. O artista hoje é um profissional como qualquer outro, assombrado pela crise econômica e os devaneios do homem medíocre.
Uma miragem parafraseada de Rubem Fonseca (bem Nabokov), que hoje pode muito bem ser mal interpretada, nos auspícios do politicamente correto, descontextualizado do contexto narrativo: o rosto de uma adolescente, de mórbida fragilidade, alva de pele e negra de cabelos, com a boca pintada de vermelho que prometia alívio e carinho. Uma personagem que evoca um Rio de Janeiro com feição da Nova York de Taxi Driver.
Finalmente, Liliana. Para início de conversa: “Já que não podia mata-la, porque ao menos não lhe dizia logo adeus?” Diz o cineasta protagonista do livro a respeito dessa garota. Meio noir (?). Condição existencial de uma femme fatale! A garota Liliana, na nossa cabeça, uma Edie Sedgwick carioca. Essa personagem de Rubem Fonseca, diz sobre nós todos, em nossa mediocridade intencional, de dentro de sua gaiola de marfim: “O que é mais importante? Os economistas dizem que o dinheiro é um dos maiores instrumentos de liberdade que o homem inventou até hoje”.



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