PLATÃO: (UM POUCO DE) LUZ NA SUA VIDA
Platão escreve seus
livros em forma de diálogos. Em tais diálogos, Sócrates, seu mestre, ocupa um
papel central.
Seus diálogos são
consubstanciados em perguntas. Suas perguntas são consubstanciadas em
questionamentos viscerais. Tão viscerais que as respostas, quando alcançadas,
após um processo cognitivo árduo e transformador, nunca são definitivas.
Assim, em um de seus
diálogos, o Etífron, apresenta-se um dilema. Pergunta Platão: o correto é
definido: i) como o que é ordenado pelos Deuses? ii) Os Deuses ordenaram o que
é correto por si?
(....) Qual a resposta
crível, fundada argumentativamente e filosoficamente?
Fato é que a maioria da
humanidade vive em dolorosa ignorância, junto ao domínio das coisas sensíveis e
longe do domínio das ideias, como explica Platão, no livro VII, da República.
A infelicidade deriva
da ignorância. A ignorância é a razão ignorada da infelicidade. Assim, por não
se saber conhecer, e somente se saber ver, vive-se no domínio ilusório das
coisas sensíveis.
Verdade maior: tudo o
que é seu não te pertence! Assim, quando se irá perder tudo que lhe foi dado pelo
mundo, ter seu valor naquilo que é transitório, é causa crescente de desespero
e infelicidade; já que, dia a dia, perde-se algo de si (derivação estoica de
matriz platônica).
Quer dizer, Platão, em
uma abordagem pós-moderna (obvia) àqueles iniciados de outros tempos, que soa,
hoje, descabida, pergunta: para que se valorizar tanto a juventude e a beleza,
se ambos serão os primeiros atributos que iremos perder, pela ação devastadora
do tempo em vida?
Assim, sem se falar da
morte em si, aborda-se a morte em vida. Quando aquilo que nos faz ter vontade
de estar vivo é externo à nossa condição espiritual. Se o ser está no ter, o
existir (des)iste de ser. Ou pior, o ser existe?
A aptidão
para ver e aptidão para conhecer, ou seja, o exercício da visão e exercício da
razão e entre faculdade da visão e faculdade da razão é o dilema que nos
apresenta o filósofo grego.
Assim, o
que temos é uma relação entre o mundo visível e o mundo inteligível. No
entanto, mundo visível é bem iluminado, facilmente perceptível, por suposto. O
mundo das ideias é sútil, facilmente ignorado. Azar daqueles que não ousaram
saber. O mundo iluminado das coisas sensíveis é o reflexo da realidade,
encoberta pela penumbra significada “no invisível aos olhos”, como essência da
realidade
A partir
dessa constatação, pode-se afirmar que, durante a narração do mito (alegoria da
caverna), a descrição metafóricas das fases de transmutação, pelas quais a
visão do filósofo passa, tem a significação das fases pelas quais passa, na
verdade, a sua razão cognitiva.
Antes da
luz do sol, é preciso enfrentar a escuridão do fundo da caverna, quando nos
afastamos da luz artificial das fogueiras, que aqueles que eram iguais a nós
fizeram para que nós ficássemos imóveis, no lugar predeterminado a nós, na
ordem das coisas social/institucional pré-constituída a nós.
Somente com
muito esforço, e alguma dor, o sujeito (filósofo) atinge o conhecimento (episteme).
O resto é publicidade sócio construtivista (ir)realista. (Ir)realidade
(ir)racional de um mundo meticulosamente construído, sensitivamente, pelas
imagens projetas em nossa consciência coletiva.
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