PONDERAÇÕES (EN)FRENTE (A)O ESPELHO







Distopia da realidade futura em uma versão alternativa do que poderia vir a acontecer. Poderia haver pior pesadelo?
Note, no entanto, que o que poderia acontecer não é o que realmente irá acontecer. O provável dá uma visão possível do desdobramento causal das nossas ações no presente, refletidas em um futuro certamente provável.
É o caso, sob nossa lente, de Black Mirror. A distopia mais próxima de uma realidade viável por se distanciar muito pouco da realidade já vivida e aparente de nossa época.
A série trata de pontos de convergência entre o que parece ser bom, assim, a curto prazo. Mas, que a médico ou longo prazo, ou sob um olhar mais apurado, chegam, em alguns casos, a ser tão apavorante, como real(mente) possível. Já que o problema, em close-up, não é a tecnologia em si; mas o homem (anti/a)ético ou (a/i)moral que faz o uso dela, como instrumento de um (bem)viver.
Um ponto. A sociedade não está despedaçada em uma carnificina apoteótica, neoapocalíptica, pós hecatombe nuclear, estilo Mad Max (a não ser na quarta temporada, em Metalhead). Outro ponto. Não existe um golpe de Estado, religiosamente fundamentado, com práticas institucionais de orgias compulsórias para fins reprodutivos, como em The Handmaid’s Tale.
Tudo é apavorantemente normal e crível, em uma realidade que se pode experimentar em qualquer país do primeiro (ou até terceiro) mundo, ou cabalisticamente próximo a isso. Pensamos na possibilidade da vida além da morte, como em San Junipero. Tanto pior. Prisão além da vida, com em USS Callister.
Outro ponto ainda. A cena é sempre voltada ao palco tecnologicamente e virtualmente iluminado. Um Guy Debord futurista, mas no aqui e agora. Onde todo mundo faz parte do elenco desse drama universal (computadorizado/televisionado/em rede).
Representamos, como na trama, um papel permanente de nós mesmos. Somos todos, produtos culturais, constantemente questionados em nossa viabilidade contingencial (no tempo e espaço, seja real ou mesmo virtual).
Uma sensação de déjà vu perpassa a espinha. Nós todos. Quando se pode lembrar da autoglorificação infligida a todos nós, pelas redes sociais (oni)presentes em nossas vidas. Imperativo categórico da sobrevivência na sociedade pós-moderna. Como em Nosedive. Ou tanto pior: Hated in the Nation!
O espetáculo performático daquelas (pessoas) que são obrigados a tomar posição e aguentar as consequências (sociais) de estar(em), nem sempre, do lado da maioria numericamente vencedora dos debates (superficiais) das banalidades do mal (estar civilizacional). Narcisismo à flor da pele!
Ficam abertas as possibilidades....O futuro nos espera, pela vidro reflexivo do espelho negro. 

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