PIED NOIR
Alguma
inadequação sempre é necessária. Até porque se não for assim, se nós nos
sentirmos adequados a tudo, o que se apresenta a nós, não nós toca realmente.
Há que se ponderar a respeito dessa resignação. Acaso, se pode pensar que se
trata de depressão? Digo a resignação é sinônimo de depressão?
Sempre pareceu-me que a depressão está mais
associada à falta de ação. Daí, à adequação, porque a inadequação com o mundo e
consigo, gera tristeza.
A tristeza é um elemento alvissareiro, muitas
vezes. Senão todas. Em nossa vida. A tristeza traz contrição. Não digo
resignação. Que para mim, é sintoma de alegria excessiva. Digo excessiva, por
ingênua.
Não quero parecer um mal agradecido, que não sabe
apreciar o que a vida tem para nos oferecer. Que é muito! Digo,
existencialmente. Com algum dinheiro e força de vontade moderada, tem-se,
acredito, uma vida excepcional.
Os ingenuamente felizes, acredito, são os
depressivos. Resignados, às vezes, por si mesmos, em suas ações condicionantes.
Outras, pelas ações medicamentosas, condicionantes.
Sabem, aquele livro, a Felicidade Desesperada (ou
Seria desesperançada). Lembro, relativamente bem, o André Conte Sponville
explicando isso tudo, que para o mais apressado, poderia soar como um contrassenso.
Mas, não é. É quase uma forma Estoica de olhar para a vida. Porque não se pode
esperar por nada fora de si mesmo. Se se fizer assim, tudo deve ser tolerado. A
fé é um instrumento de conforto. A Deidade é uma benção. Mas tudo tem
consequência nessa vida. Até a sua falta (de consequência)
Enfim, volto à carga. A resignação também é uma
benção. Realmente! Ora, que prazer em não pensar me nada. Assim, como Alberto
Caeiro. Pensar é estar doente dos sentidos. E mais. Eu não tenho filosofia,
tenho sentidos. Sei bem, que quando escapava da minha vida opaca, por
irresignação, em um pretenso idílico sítio de minha propriedade. Refugia-me de
mim mesmo, naqueles tempos. Mas, não de minhas ideias. Elas assaltavam os
sentidos e me deixavam cego e surdo a tudo o que poderia servir de conforto, no
sentido de se tentar alcançar uma paz, pelo contato com a natureza semi virgem.
Por isso, eu digo, por alguma experiência própria. E não é à toa, que ilustro
esse desabafo não linear, com a foto do Albert Camus.
Essa irresignação profunda, que me acompanha, que
gera a tristeza que se espera das coisas que não se adequam a nós mesmos, faz
um inferência na mais aguda das minhas percepções. A percepção de que tudo tem
um sentido, e que a razão do sentir é racional e filosoficamente embasada em
nossa consciência de si e do mundo. Um lugar comum, confesso. Mas já é mais um
passo no escuro da nossa coletiva ignorância, em que eu me insiro.
Enfim, por tudo isso que não tem muito
significado aparente. Que reluz no breu da consciência desvelada, é bom lembrar
das passagens do Estrangeiro. É bom saber que Albert Camus esteve no Brasil,
numa praia que eu também fui. E fiquei sabendo depois da história. Todo domingo
que me assalta o sentimento de resignação às coisas da vida fácil e comedida,
eu lembro também do Walt Whitman.
É isso. Hoje eu estou convicto de que a minha
esposinha tomou o lugar da Hilda Hilst nessa minha trama de desvelo.
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