VINGANÇA, BONDADE, AMOR E PERDÃO: Professor Tércio e Kohlaas

 


 VINGANÇA, BONDADE, AMOR E PERDÃO: Professor Tércio; Kohlaas e Unfaithful.

 

Você usa tanto uma máscara que, acaba esquecendo de quem você é. V de Vingança

 

Sobre Hamlet. Sobre a aula do Professor Tércio Sampaio Ferraz.  Sobre Michael Kohlaas. Sobre o filme Unfaithful, de Adrian Lyne.

Quem reivindica, pede com espírito de vingança. Pede porque é dele.  A justiça está em compensar. Pensar um e outro. A justiça é relacional. Diferente da vingança. Que se origina da noção de justiça absoluta. A vingança é total.

O que conta não é mais o ofensor. Aquele que se vinga tem os olhos fixos em quem o ofendeu. Perde-se a noção de correlação proporcional. Há um caráter difuso, perdido nos meandros do sentimento de amargura. Aliás, quem se vinga de alguém, não se vinga do ofensor, vinga-se a si mesmo. A perspectiva da vingança é (d)o ofendido.

A propósito, o olho por olho, dente por dente, não foi um marco civilizacional?

O que é imprescindível é que o ofensor desabe na sua frente. Da perspectiva do ofendido que se regozija. O grande espetáculo de sublimação, sob a ótica psicanalítica.

Isso é despercebido, muita vez, na pueril vivência dos nossos dias. A arte consegue, a partir de um filme, ou peça teatral, que haja o desvio daquilo que é obvio trazer a nós essa dimensão mais profunda da vida (a vida imita a arte ou a arte imita a vida?). Aquilo que nos passa despercebido. Quando aquilo (experiência estética da arte) nos toca, nós ficamos tomados (por esse choque de gestão). Tomados por um cotidiano que nos é alheio. Apropriamo-nos da experiência vivencial de outra vida, num enredo incomum (e muitas vezes extraordinário. Note, no filme: O Diabo de cada dia e o citado Infidelidade, ambos em seus mundos, abordando os dramas existenciais nas sistemáticas dinâmicas de vidas enredadas).

Ao criar o envolvimento, a arte desperta em nós, a percepção dos detalhes de nossa existência. Até o momento final, chamado de apoteose ou transfiguração, em que a metamorfose se completa, e emerge, do lado de fora do túnel, um ser humano outro, daquele que entrou, pelo lado oposto da toca do coelho.

Quando a (in)justiça se posta à nossa frente, difícil é ficar estanque. A ordem tem que existir para que haja justiça, por supuesto! Que lástima se postar vencido, diante da ordem! Lembram-se que o Direito é Direito, independentemente de ser direito.  

Faltam-nos palavras para expressar o quanto nos dói ter de renunciar a si mesmo em nome da condição inesperada da vida ordenada. Diz o personagem.

Ter a coragem de vislumbrar o que fica secreto. Oculto. Escondido. Olhar a profundeza da alma, para conseguir olhar melhor a superfície, diz o Professor Tércio Sampaio Ferraz.

Que a espada da justiça me corte o pescoço, com o gosto de poder se vingar do outro (meu algoz)! Morro satisfeito, bebendo do veneno da vingança, como causa de minha morte. Mas levo junto o inimigo que me perseguiu. Diz ou outro personagem.

A consequência de algo que foi realizado antes.  Afinal, ninguém ouve as suas próprias palavras, porque se assim o fizéssemos, pararíamos de falar imediatamente. Diz Noam Chowsky, citado pelo Professor Tércio.

Por que a vingança é tão próxima do perdão? Perdão é uma forma de você responder à vingança. Não existe relação com o Direito, nessa seara. Mas se a condenação é a redenção, ao sucumbir em nós mesmos, realizamos o ideal da Justiça? Isso que Henrich Von Kleist e Franz Kafka, ao fim e ao cabo, querem nos ensinar? 

Se só o amor perdoa. Como fazer? Afinal, o amor é um problema político. Ou até melhor, o amor é apolítico. O amor ao igualar, impede a desigualdade. Que é pressuposto, de quem julga, e de quem é julgado. Quem se define pelo amor é indiferente às diferenças. Como ser imparcial, portanto? A irreversibilidade das consequências e o perdão, poderia se dar como solução, na esteira de Hannah Arendt?

E a bondade? E as moscas na cabeça de Orestes? As Eríneas que atormentam nossa consciência, propugnando pela vingança?  Perdoar a si mesmo não o mesmo que se desculpar. A vingança apaga, a bondade remanesce. É manter e dar curso à catarse significante de um caminho, a partir do que foi feito. Não esquecendo o que lhe foi feito.

Seria o caso, portanto, de se valer da vingança com bondade, para se alcançar o perdão?






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