A MARGARIDA ENLATADA DE CAIO FERNANDO ABREU





Disse o gato pro rato: Façamos um trato. Perante o tribunal eu te denunciarei. Que a justiça se faça. Vem deixa de negaça, é preciso, afinal, que cumpramos a lei. Disse o gato pro Rato: - Um julgamento tal, sem juiz nem jurado, seria um disparate – O juiz e o jurado serei eu, disse o gato, e tu, rato, réu nato eu condeno a meu prato. “Poema Cauda” ( sem a característica forma). Alice nos País das Maravilhas. Lewis Carroll.


            Todos nós somos Consumidores. Sem exceção.  Parece pleonasmo... Diriam alguns até que esse que vos escreve só fala disso (ou melhor, escreve também). E é verdade...

            No entanto, em minha defesa, tenho a dizer que todos os dias, convivo com pessoas de boa índole que são lesadas. E ser lesado, seja em muito ou pouco dinheiro, de um ponto de vista psicológico, dá no mesmo. A indignação e a raiva derivam numa perplexidade que nos faz sentir como gado marcado para o abate.

Fato é que por muitas vezes tem-se pouco ou muito pouco a fazer, quando o Sr. ou Sra. Consumidor(a) tem sua dignidade afligida por hábitos de consumos incutidos cirurgicamente no tecido social. E nesse sentido, apresento a minha humilde discordância, quando o Professor Marcos Cobra[1], a falar de Marketing, citando a teoria de Abraham Maslow, defende a tese de que tal mecanismo apenas identifica e atende as necessidades do ser humano.

Ora, as necessidades fisiológicas de saciar a sede, passam longe da água e muito perto dos refrigerantes “abra a cabeça” ou “seja original”; de uma cerveja geladinha, seja “a boa” ou a “número um” (já que as duas são uma só lá fora). As necessidades de saciar a fome passam longe do feijão com arroz e a mistura de casa, e muito, mas muito perto mesmo do “Mac qualquer coisa”, afinal como TV ensina: “amo muito tudo isso!”.

Digo o que vejo todos os dias. Pessoas desrespeitadas, sem direito a voz; sentindo-se diminuídas dentro de uma estrutura voltada para dificultar o acesso a seus direitos – algumas até verdadeiramente (des)iludidas, e que de forma pragmática nos olham, profundamente, e até desconfiam daquilo que falamos (ou escrevemos), pensando-nos (muito) mais conformistas.

E todos os dias radiografamos os efeitos colaterais de uma sociedade de consumo, massificada e extremamente voltada ao consumismo.

Aliás, do significado etimológico de “consumir” deriva: “Corroer até a destruição, destruir”. E eu lhe pergunto: “Você tem fome do que?”

Srs. e Sras. Consumidores(as), somente cumpriremos o nosso papel social enquanto desposarmos o discurso do inconformismo. Intransigentes em exigir a lealdade daquele que promete. Irredutíveis na obrigação de ser probo e de receber probidade. Em tudo, levantar a bandeira da boa-fé, subjetiva, a derivar nossa intenção para tanto, e objetiva, a derivara a nossa ação para tanto, além da ética para com o próximo.

É disso que estamos falando! De valores fundantes do nosso modo de vida! De ser informado, respeitado e não lesado. De não ter de se resignar ao mau-caratismo e a burla da legislação.

E, a propósito, para os que não sabem, o Molony Report, que foi o primeiro estudo científico a proceder um diagnóstico sobre a situação de fragilidade do consumidor, nos Estados Unidos da América, em 1962, ainda no governo Kenedy, observou que: “as leis e regulamentos são de pouca valia, a menos que sejam observados”[2].

            Assim, pensemos bem, o que está em jogo é muito mais do que possamos abarcar em nossa vã filosofia imediatista.

 Correligionário(a) Consumidor(a), não se faz revolução sem revolução (e principalmente as das causas primeiras)!

 Pense nisso – e leia o conto do Caio, antes de comprar o presente do dia das mães/pais ou irmãs(os) e avós(ôs)  -  e sem torcida: seja vivo, claro?! 




             





[1] COBRA, Marcos. Marketing Essencial. Editora Atlas, 1986, p. 42.
[2]FILHO, José Emmanuel Burle. Ação Civil Pública. Instrumento de Educação Democrática, in Ação Civil Pública, Coordenador Édis Milaré. Editora Revista dos Tribunais. 2ª Edição, p. 403.

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