A METAFÍSICA DA CHUVA PENSADA
Escuto a voz de meu
pai, dentro de minha cabeça, passando por minha boca, a voz fica meio rouca e
quer que eu me compadeça. (...) Meu pai parece que sofre de tudo que eu mereça.
(Lourenço Baêta)
Como conseguir ir
contra o sistema? Se “[...] milhões de negligências formam a nossa decadência”
(BAÊTA, 1979).
Se se for a todas as
instâncias administrativas e judiciais, em defesa de princípios éticos caros a nós
(e representativos de alguma sociedade humana, para não cair em um relativismo
moral perigoso), que se encontram desrespeitados por atos, fatos e [...] leis
(em sentido super amplo), há chance
de se ser ouvido por qualquer ouvido humano não divinizado?
Circunstanciais e
representativas de acepções torpes (adstritas a uma feição econômica de cunho depreciativo);
esses atos, e todas as suas significações semânticas são perceptíveis de alguma
forma?
A linguagem, em sua
ontologia própria, tem a possibilidade de expressar as nuances da realidade
contextual que nos circunda a todos?
As verberações
tragicômicas dos profetas do apocalipse se ressumem a ressoar “[...] como uma
expressão da condição emocional do artista no momento de criação” (Weaver,
2016, p. 168)?
Àqueles que desafiam o
sistema, ao perceber o mal disso tudo, tem alguma chance de redenção, antes de
ir longe demais, na mata escura, povoada de feras inomináveis?
Toda a dogmática
jurídica conforta também os descrentes?
A dimensão filosófica
da linguagem transcende o sentido de uma violência praticada pela espada da Justitia?
Há trovões no
horizonte. Em algum lugar chove torrencialmente. Mas aqui, somente escutamos os
trovões. Como não anoiteceu, não conseguimos enxergar os relâmpagos.
A imitação de Alberto
Caeiro, “pensar no sentido íntimo das cousas é acrescentado, como pensar na
saúde ou levar um copo à água das fontes”. A metafísica dos pingos da chuva,
assim como as árvores do poema, “[...] é a de não saber para que vivem nem
saber que o não sabem [...]”.
A metafísica da chuva
se revela na sua física fria que molha nossa testa, e que nos faz, na madrugada
posterior, gemer de febre e gripe, no escuro impenetrável de nossa dor.
REFERÊNCIAS
BASTOS, Lourenço Baêta. Lourenço Baêta. São Paulo: Continental,
1979.
WEAVER, Richard M. As Ideias Têm Consequências. 2ª ed. São Paulo: É Realização, 2016.
PESSOA, Fernando. O Guardador de Rebanhos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pe000001>.
Acesso em 20 jan. 2016.
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